O futuro do leite e derivados: fique por dentro das tendências do setor e consumo
- silemg6
- 20 de jun.
- 3 min de leitura
Da commodity à conexão
Se antes bastava estar na prateleira, agora o leite precisa disputar atenção com bebidas vegetais embaladas por discursos de sustentabilidade, bem-estar animal e inovação. Enquanto o setor lácteo ainda comunica volume, preço e tabela nutricional, seus concorrentes vendem propósito e pertencimento.
Hoje, não se trata mais de vender calorias, mas valor nutricional, transparência e autenticidade. O discurso técnico perde espaço para uma comunicação emocional, que conecta e engaja. O consumidor moderno lê rótulos, busca selos de certificação e, mais do que isso, quer reconhecer aquilo que consome como alimento de verdade.
Esses produtos em geral são inferiores ao leite, do ponto de vista nutricional, mas podem vencer no coração do consumidor. E isso ocorre porque sabem contar histórias, sabem se posicionar e sabem criar desejo.
“O que a gente precisa fazer é uma mensagem uníssona para esse consumidor”, alertou Diana Jank, Diretora de Marketing da Letti A², em sua palestra “A mudança no perfil do consumidor: oportunidades e desafios para a produção de leite”, apresentada no Milk Pro Summit. “O agro está em alta e existe uma oportunidade muito grande para a gente iniciar o diálogo com esse consumidor. É legal se associar, estar posicionado como descolado, estar na moda, estar no entretenimento, estar na arte, estar na música. É uma baita oportunidade para entrarmos.”
Novo consumidor, novas exigências
O consumidor moderno não quer saber apenas o que é nutritivo; ele compra o que representa seus valores. Ele quer saber de onde vem o alimento, como foi produzido, quem está por trás da marca. Exige transparência, ética e autenticidade.
“Quando falamos de inovação, pensamos em novos produtos, mas estamos falando de leite, algo que conhecemos há tanto tempo e que é completamente tradicional. A questão é: vamos falar dele de outra forma?”, provocou Diana. “Vamos falar dele certificado, com outros propósitos.”
Hoje, o leite precisa deixar de ser defensivo e se tornar propositivo. A comunicação não pode mais se limitar a rebatidas a críticas, ela precisa se antecipar, liderar, emocionar. O leite precisa sair da categoria de commodity ir de encontro ao território do afeto, da saúde, do natural, da ancestralidade.
O boom das proteínas
Segundo a Circana, principal consultoria global especializada no comportamento do consumidor, o consumo de leite integral nos EUA cresceu 3,2% em 2024, a segunda alta desde os anos 1970, enquanto os leites vegetais caíram 5,9%.
Três fatores explicam esse movimento: proteína, preço e percepção. Juntos, esses três fatores reverteram uma queda de longo prazo e colocaram o leite de vaca novamente em destaque.
O leite é um alimento completo. Mesmo com a inflação, o leite continua sendo uma das fontes mais acessíveis de nutrientes essenciais, como cálcio, potássio e vitamina B12. Enquanto bebidas vegetais podem custar de 20% a 50% a mais, o leite de vaca continua acessível.
“A melhor proteína que temos, em qualidade e custo, vem do leite. Mas, para continuar relevante, o setor precisa ser cada vez mais eficiente, sustentável e conectado com o consumidor final.”, afirmou Torsten.
Segundo dados do IFCN - International Farm Comparison Network (Rede Internacional de Comparação Agrícola, mostrados pelo seu fundador Torsten Hemme, apesar dos desafios, a demanda global por leite cresce 2,5% ao ano. “Parece pouco, mas isso equivale a mais de uma Nova Zelândia a mais, todo ano”, pontuou.
Um novo papel para a indústria
Mas nada disso se sustenta sem um elo forte entre quem produz, quem transforma e quem consome. A indústria tem papel fundamental nessa virada: precisa assumir o protagonismo, criar campanhas consistentes, agregar valor e, principalmente, repassar esse valor ao produtor.
“A indústria precisa realmente assumir esse papel de contar as boas e verdadeiras histórias para o consumidor, de ser capaz de convencê-lo a pagar mais pelo produto (com valor agregado) e, com isso, passar esse prêmio para o produtor.”, reforçou Diana Jank.
Agregar valor é, antes de tudo, um trabalho coletivo. Exige um produto de qualidade, sustentável, narrativa inspiradora e produto coerente com o que é prometido.
Publicado por: Maria Luíza Terra em: 10/06/2025